segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A História de uma Família - Final - Superação


Certamente não teríamos permitido que ela tivesse um rapaz em seu quarto para passar a noite, mas, que dizer de uma moça? Sentíamos que não poderíamos proibi-la de ter sua amiga durante a noite, e que precisávamos oferecer-lhes um lugar seguro para explorarem sua relação, uma vez que não era seguro, no mundo externo, mostrarem afeição uma pela outra.

Em nossa família, sempre falamos abertamente sobre sexuali­dade em geral e de quão importante é respeitar a si e a outra pessoa. Tornar-se sexualmente ativo era uma decisão séria, por várias razões importantes. Para a maioria dos pais é difícil quando se descobre pela pri­meira vez que os filhos são sexualmente ativos. Quando Karla nos disse que estava tendo uma relação heterossexual aos 17 anos, tivemos a mesma dificuldade de quando Jo nos falou da sua relação homossexual em idade semelhante. Na verdade, fica­mos mais preocupados no caso de Karla por causa da possibili­dade de doenças sexualmente transmissíveis e pela possibilidade de gravidez (hoje reconhecemos - o que não era o caso naquela época - que todo mundo tem que se preservar ao fazer sexo, e que lésbicas também podem contrair doenças transmitidas por via sexual). Quando Karla começou a namorar rapazes, ela pro­testou por não lhe permitirmos ficar com um rapaz durante a noite, ao passo que tínhamos permitido ajo ficar com a amiga. Como é difícil ser pai e mãe nessas ocasiões!

Penso que a maioria dos pais visualiza um futuro heterosse­xual para seus filhos e filhas, e sonham com o que podem vir a ser e o que vão fazer. É importante colocar esses sonhos dentro de uma perspectiva, sendo vital aceitar nossos filhos e filhas pelo que são, não pelo que visualizamos para eles e para elas. Isso leva tempo e pode ser doloroso para pais e filhos.

Jo teve três outras relações e enfrentou consideráveis proble­mas, inclusive a rejeição dos pais de uma das suas namoradas, e uma relação abusiva e infeliz. Ela também teve muitas experiên­cias positivas e afirmadoras, tendo amadurecido para ser uma jovem mulher dedicada e que sabe se expressar abertamente. Des-de 1991, ela tem uma relação de compromisso e amor com uma mulher de nome Mary.

Jo se sente muito mais segura desde que a reforma da lei foi sancionada, tornando ilegal a discriminação com base na orien­tação sexual no emprego, moradia e no fornecimento de bens e serviços. Entretanto, continua existindo amplo preconceito e hos­tilidade contra Jo e contra as pessoas que ela conhece e ama.

Desde que deixou a escola e começou a trabalhar, Karla tam­bém tem apreciado o convívio com seus numerosos amigos na comunidade gay. Ela se sente à vontade numa vizinhança bastan­te diversificada na área central da cidade e acredita que sua vida seria muito mais pobre sem os seus amigos gays.

Por vezes discordamos de decisões tomadas por uma de nos­sas filhas, mas tentamos aceitar que as decisões são delas. Apre­ciamos a relação adulta que temos com elas, a qual continua melhorando, e gostamos de participar da vida delas.

Nossas preocupações iniciais sobre as reações das outras pes­soas quando Jo se assumisse abertamente como lésbica eram in­fundadas. A decisão de Jo de não se preocupar com o que pen­sam as outras pessoas nos permitiu ser totalmente abertos e rea­listas sobre nossa filha lésbica e nosso apoio às pessoas gays. Cons­tatamos que a reação mais comum de amigos e colegas a essa abertura também é de aceitação realista. Muitos têm manifesta­do que isso ajudou-os a resolver um assunto que tinha sido difí­cil como ideia, e que sua percepção da homossexualidade mu­dou no momento em que envolveu pessoas reais. Alguns pais em situações semelhantes foram ajudados a superar as dificulda­des por meio da nossa discussão franca e aberta sobre a jornada e as atitudes da nossa família.

Algumas pessoas adotam a posição de que amam e aceitam homossexuais, mas que a intimidade homossexual seria pecado. Dizem, por isso, que homossexuais deveriam ser celibatários. Acreditamos que a intimidade sexual é parte integrante da nossaexperiência humana, e que ninguém tem o direito de negá-la a outra pessoa. O celibato é apropriado quando for opção delibe­rada da pessoa, seja ela homossexual ou heterossexual.

A falta de aceitação e de amor para com homossexuais tem consequências trágicas. Por exemplo, baseados na experiência da nossa filha, acreditamos que, provavelmente, uma fração não conhecida, mas considerável, da alta taxa de suicídios entre jo­vens na Nova Zelândia Aotearoa é de jovens homossexuais que não têm a coragem de se assumir abertamente, por medo de serem rejeitados e excluídos de suas famílias.

Aquilo que escrevi aqui é sobre as filosofias e experiências dos membros da minha família. Embora cada pessoa e cada fa­mília seja única, os princípios e filosofias que desenvolvemos, profundamente baseados em nossa fé cristã e em nossa imagem de Deus e de Jesus, convencem-nos de que, como pais e mães, fizemos opções que enriqueceram e fortaleceram a vida da nos­sa família e a vida de cada um dos seus membros, com todas as nossas diferenças. Isso contrasta com famílias dilaceradas pela incapacidade de algumas pessoas em aceitarem as diferenças, inclusive a orientação sexual de outros membros da família.

Acreditamos que os problemas e as soluções estão, antes de mais nada, nas opções feitas pelo pai, pela mãe e demais membros da família. Se você opta por considerar a homossexualidade uma "abominação", um "pecado mortal" ou uma doença curável, você está escolhendo um caminho doloroso e destrutivo para a família e para seu integrante homossexual. Se você opta por aceitar e cele­brar a rica diversidade de atitudes, talentos, contribuições e orien­tação sexual de cada membro da família, isso pode levar a um enriquecimento positivo de cada um deles, fortalecendo a integra­ção familiar e fazendo com que o amor e a aceitação da família sejam estendidos a outros que foram excluídos das suas famílias.

Para nós, este é o caminho de Jesus. Não podemos conceber que Jesus afaste seu rosto de nenhuma das nossas duas filhas, nem de qualquer pessoa que conheçamos. Pelo contrário, vemos Jesus saudando a cada um de braços abertos e olhando direto nos olhos, comunicando seu amor e aceitação a todos. Nós só podemos procurar agir da mesma forma.
*Depoimento extraído do livro "Encarando Nossas Diferenças"
do pastor presbiteriano Alan Brash.


2 comentários:

  1. Alexandre, graça e paz! = .)

    Um exemplo a ser divulgado e a ser seguido. Vamos orar para que o Espírito Santo possa manifestar em outras famílias essa reação da família desse livro. E o melhor que é veridcto. Glórias a Deus!

    Uma lição de cristianismo e família.

    Com cariño para o meu cariño.

    ResponderExcluir
  2. Graça e paz, Jean!

    Sim, de fato um grande exemplo! Muitos anseiam por uma compreensão familiar como o descrito nessa história, eu, inclusive. No momento, oremos pois para Deus, nada é impossível! Creiamos nisso e prossigamos descansando em Seus cuidados conosco!

    Com carinho!

    Alexandre Feitosa

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...