segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Dica de Leitura: Homossexualidade: Perspectivas Cristãs


Este livro essencial fez e faz parte de minhas leituras sobre igreja, Bíblia e homossexualidade. Seus artigos - 12 no total - foram escritos por líderes e teólogos heterossexuais (exceção para John J. McNeill), provando, mais uma vez, que a Teologia Inclusiva não nasceu, tampouco está se consolidando pelas mãos de pessoas homossexuais despreparadas e preocupadas em justificar sua fé/sexualidade. É um livro desafiador, esclarecedor e, principalmente, corajoso, pois lança por terra paradigmas antes intocáveis. Todo cristão que professa amor aos homossexuais deveria ler essa obra. A resenha a seguir foi escrita por Paulo Nascimento. Boa leitura.
Alexandre Feitosa

 Homossexualidade: Perspectivas Cristãs

Por Paulo Nascimento

Homossexualidade: perspectivas cristãs é sem dúvida uma publicação corajosa e desafiadora. Seu aparecimento poderia ser considerado à luz dos novíssimos debates sobre a homossexualidade e suas reivindicações civis, quando os evangélicos brasileiros mostram que seu dissenso chega até esses campos, onde aparentemente habitava algum consenso. Entretanto, o livro é de 2008, quando essas discussões ainda não estavam na crista da onda. E é exatamente isso, a meu ver, que o torna atraente e especial. Não obstante, é impossível que uma resenha desse livro não seja afetada pelo debate que está em alta agora na comunidade evangélica brasileira, justamente porque é feita visando contribuir para ele.


O livro foi publicado pela Fonte Editorial, tem 184 páginas e está dividido em 12 capítulos. Os textos, embora estejam todos relacionados à mesma temática, são independentes, de tal maneira que a leitora e o leitor podem iniciar a leitura do ponto que quiser, sem prejuízo para a compreensão. Há uma breve apresentação de Sandra Duarte de Souza, doutora em Ciências da Religião pela UMESP (1999), e a tradução dos capítulos é de Jaci Maraschin.

Acreditamos que a publicação de Homossexualidade: perspectivas cristãs pode contribuir em muito para a qualificação do debate atual acerca da legitimidade da homossexualidade enquanto orientação sexual. A contextualidade das reflexões que o livro apresenta não nos desautoriza a recomendá-lo como ótima fonte de consulta na discussão deste tema. Além das contribuições de conteúdo, o livro também oferece uma metodologia a seguir quando se trata de pensar a homossexualidade com categorias bíblicas e cristãs. Tal metodologia pode ser resumida como um diálogo constante entre a tradição das fontes bíblicas e os resultados das ciências humanas e sociais.
Os autores, em sua maioria professores em instituições de ensino teológico protestantes, assumem uma postura de inclusão e de aceitação da legitimidade da experiência homossexual. As fontes bíblicas, constantemente reviradas em diversos capítulos, são consultadas com a mediação de recursos da exegese, que nos ajudam a compreender o pano-de-fundo de cada declaração bíblica acerca do tema. Uma linha comum de argumentação do livro reside na constatação de que a Bíblia não oferece categorias objetivas para se tratar do tema da homossexualidade, visto ser esta uma categoria muito tardia, ausente nas culturas que geraram o texto bíblico.
Os autores do livro tratam de separar aquilo que seria um comportamento homossexual praticado por pessoas heterossexuais num contexto de opressão, idolatria e auto-alienação, das atuais relações homoafetivas marcadas pela cumplicidade, pela reciprocidade e como decisão deliberada entre duas pessoas adultas do mesmo sexo. Os autores da Bíblia não conheceriam esta novíssima categoria, sendo que a negação dos comportamentos homossexuais, presente na Bíblia, se dirigiria a pessoas heterossexuais nos contextos rapidamente descritos logo acima.
Os três textos usados tradicionalmente pelas igrejas cristãs como fundamentos bíblico-teológicos para a negação da homossexualidade – Gn 19, Lev 18/22 e Rm 1 – recebem atenção especial emHomossexualidade: perspectivas cristãs. Os autores do livro revisitam a narrativa de Gn 19 em diálogo com recursos da exegese bíblica, para concluírem que, no lugar da negação de um determinado comportamento sexual, o texto apontaria para a denúncia da falta de hospitalidade, e para a prática da opressão e da injustiça social. Para reforçar esse ponto de vista, os autores apontam para o modo como a própria tradição bíblica, mormente o profetismo, releu o problema da “sodomia” não como uma transgressão da sexualidade, mas como um problema ético/social (cf. Ez 16,49). 
A tradição levítica é situada à luz do contexto social do Israel bíblico. No entanto, o ponto áureo desse tópico é a denúncia da seletividade ideológica que caracteriza a maioria dos intérpretes atuais do livro de Levítico, ao relegarem a perenidade e a obrigatoriedade da observação de tantos outros preceitos morais para além daqueles ligados aos comportamentos homossexuais. Rm 1, referência majoritária no Novo Testamento neste debate, é meditado à luz daquilo para o qual já apontamos, acerca da diferença não concebida por Paulo entre comportamento homossexual por pessoas heterossexuais num contexto de idolatria e auto-alienação, e as atuais relações homoafetivas que buscam se afirmar sobre outras bases. 
Além desse diálogo com as tradições bíblicas, outra interessante marca desta publicação é sua consulta constante ao material oriundo das ciências sociais e humanas, pelo menos no que se dispunha disso no período de produção desses textos. E é justamente a aproximação da produção científica que traz para essa discussão a categoria de “orientação sexual”, em lugar de “opção sexual”. O livro apresenta algumas discussões acerca da natureza e da gênese da homossexualidade, e reflete bem as inconclusões da época (que permanecem) quanto a este tópico. Um dos pontos mais controversos desse tópico em especial, é uma resenha de The construction of homossexuality (David Greenberg) presente no livro, de autoria de Don Browning. O autor do livro resenhado se utiliza de categorias do construcionismo social para pulverizar as concepções essencialistas que tentam explicar a gênese da sexualidade humana.
Se Homossexualidade: perspectivas cristãs já era um livro corajoso e interessante em 2008, quando silenciávamos acerca desse tema, agora muito mais quando certos discursos e ações tentam vender a impressão de um falso consenso na comunidade evangélica brasileira em relação aos homossexuais. É interessante saber que esse consenso nunca existiu, nem no Brasil nem em outros contextos. É interessante saber que, se por um lado o tema é tratado apressada e preconceituosamente por uma grande parcela de líderes e igrejas, por outro lado ele é tratado com preocupação séria, esforço disciplinado e mente aberta por líderes e igrejas pertencentes à mesmíssima comunidade evangélica.
É interessante saber que no lugar de uma perspectiva cristã, caracterizada pelo trato sisudo e rancoroso com que enfrenta a temática, há outras perspectivas cristãs para pensar as reivindicações civis e religiosas da homossexualidade, marcadas pela inclusão e pelo acolhimento de uma comunidade de pessoas historicamente consideradas de segunda categoria.
Quer mais dicas de leitura? Clique AQUI.
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3 comentários:

  1. Alexandre, quero muito ter o livro Bíblia e Homossexualidade, só que não sei como, onde eu o acho, como faço para compra-lo, quero muito ler ele. Please, rs

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  2. Olá, Jeovanne, tudo bem? Então, para adquirir "Bíblia e homossexualidade", você tem várias opções. Pode adquirir diretamente comigo via depósito bancário (Caixa Econômica) ou no cartão em uma das livrarias virtuais que trabalham com a obra. No seguinte link, você tem os detalhes:

    http://teologiaeinclusao.blogspot.com/2010/06/lancamento-ja-venda.html

    Qualquer dúvida, entre em contato!

    Abraços fraternos,

    Alexandre Feitosa

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  3. Pois é, ainda estou em duvida, acho que o melhor a fazer é via depósito bancário, vc me fala quanto e eu te mando o dinheiro. Pode ser!

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