Pr. Alexandre Feitosa
Todo
cristão LGBT sonha com o dia em que igrejas inclusivas não serão mais
necessárias. As Igrejas Inclusivas, em si, são o resultado da segregação
secular que atinge lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros. Seu surgimento e
existência são o produto direto da exclusão das estruturas cristãs
convencionais. De posse da Bíblia e de uma abordagem teológica libertária -
possível a partir de uma leitura histórico-crítica das Escrituras com ênfase na
graça divina - cristãos LGBT emergem da clandestinidade e ganham cada vez mais
visibilidade. Embora condenadas e combatidas pela maioria cristã convencional,
tais igrejas vêm crescendo em uma escala cada vez maior no Brasil.
Em
contrapartida, igrejas históricas como a presbiteriana, a batista e a metodista
têm desafiado a hegemonia teológica heteronormativa, especialmente nos Estados
Unidos, ao abrir suas portas para a comunidade LGBT, com direito à ordenação ao
ministério pastoral e à benção para uniões homoafetivas. No Brasil, algo desse porte ainda não
aconteceu, mas já presenciamos avanços significativos. É o caso da Igreja
Batista do Pinheiro (IBP), com sede em Maceió, Alagoas.
A
denominação, fundada em 1970, decidiu, em assembleia geral (ou seja, os membros
também votaram), abrir suas portas para as pessoas de orientação homossexual. Segundo
o pastor da denominação, Wellington Santos, foram 129 votos favoráveis, 3
contra e 15 abstenções. Entre debates e embates, a discussão acerca da
aceitação de membros homoafetivos durou 10 anos. Sobre isso, escreveu o pastor:
"Celebro esta decisão
histórica com muito temor no coração, uma vez que encerra um debate de 10 anos,
em que estudos bíblicos, encontros, mesas redondas, embates, debates e, é obvio,
alguns arranhões (não teria como ser diferente) aconteceram no desenrolar desse
período. Durante esses 10 anos, fizemos questão de não abrir mão da Bíblia,
pois, ela continua sendo nossa regra de fé e prática; mergulhamos o mais
profundo que pudemos nos estudos exegéticos e hermenêuticos em busca de um
consenso que trouxesse paz ao coração na hora de decidir. Nesses quase 46 anos de organização como igreja, nossa
comunidade de fé sempre procurou estar atenta e sensível às vozes daqueles que
não conseguem ter voz, nem ser ouvidos pela maioria, principalmente do mundo
religioso formal. Depois de 10 anos discutindo, conversando, orando, chorando e
não se deixando vencer pela força coercitiva do fundamentalismo machista e
excludente que sempre predominou em nossas leituras e interpretações da Bíblia,
recebo essa decisão como uma boa nova que o Espírito de Deus nos mostrou."
Outro
ponto importante no processo foi a presença de um membro, declaradamente homossexual.
Sobre ele, o pastor continua:
"Louvo a Deus pela vida do irmão
Júlio Daniel que, corajosamente, há 10 anos, de forma pura e até inocente,
declarou sua condição sexual publicamente na igreja, gerando, na ocasião,
desconforto para alguns e desafio para outros que a partir daquele momento
começaram a considerar o tema de forma mais didática e pedagógica em oração".
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Pr. Wellington Santos |
A
decisão teve como base o artigo 5º do estatuto social da Igreja, que rege: "A Igreja compõe-se de pessoas [...]
sem distinção de sexo, cor, idade ou nacionalidade..." A Diretoria
enfatizou em documento oficial[1] a
postura não discriminatória e inclusiva que caracteriza a IBP bem como seus
esforços ao combate a toda e qualquer forma de intolerância. O mesmo documento reforça
a preocupação em desenvolver uma teologia esclarecedora e libertadora, mantendo
o compromisso de dar continuidade ao estudo do tema junto aos membros.
Avanços
à parte, muitas questões ficaram no ar. Lemos muitos comentários a respeito do fato divulgado pelo site VejaGospel.Net. Percebemos que muitos cristãos inclusivos encararam o fato como o surgimento de mais uma denominação inclusiva. Fomos examinar mais de perto os fatos a fim de verificar como a IBP oficializou sua posição. Constatamos, então, que os documentos oficiais não fazem
qualquer menção à ordenação de homossexuais, ao relacionamento homoafetivo, aos
bissexuais ou aos transgêneros. Não há nenhuma palavra acerca do que as igrejas
convencionais chamam de "prática homossexual". Seriam tais pessoas
aceitas apenas como membros ou poderão desfrutar das mesmas oportunidades oferecidas
aos membros heterossexuais? São perguntas ainda sem respostas. Uma igreja de
fato inclusiva deve estar aberta à diversidade sexual humana em seus dons, potencialidades
e talentos, inclusive ministeriais e eclesiásticos; deve defender a realização
afetiva para todos, abençoando todas as configurações familiares, sem distinção; deve acolher as minorias não apenas com base na orientação sexual, mas
também com base nas identidades transgêneras.
Retaliações
Após
tornar pública a decisão de inclusão de membros homoafetivos, a IBP vem
sofrendo várias retaliações e ameaças. O principal foco das manifestações
violentas são o pastor Wellington Santos, sua esposa, pastora Odja Barros e
seus filhos. A diretoria da IBP, composta por 21 membros da denominação, por
meio de carta publicada em 10 de março de 2016, manifestou total apoio à
família pastoral, bem como o repúdio a quaisquer atos violentos contra sua
moralidade. O documento também ressalta a validade da decisão, tomada por meio
de assembleia geral, respeitando o estatuto oficial da denominação, os
princípios de autonomia da igreja local e a liberdade de consciência de cada
membro.
Apesar
de não configurar-se (ainda) como uma igreja inclusiva, parabenizamos a IBP pela
coragem de tornar oficial sua visão e acolhimento às pessoas homoafetivas, fato
que deve ser encarado como um avanço sem precedentes no Brasil e como o início
de um processo semelhante ao que acontece nos Estados Unidos, país com o maior
número de denominações convencionais inclusivas do mundo.
[1]
Trata-se do documento intitulado "Parecer
da Diretoria da Igreja Batista do Pinheiro Sobre a Aceitação Como Membro de
Pessoas Homoafetivas".
Ótimo! Notícia maravilhosa!!
ResponderExcluirPastor, por favor, não nos abandone! Saudades de suas postagens.
Amém! Obrigado por ler nosso artigo e por esperar novidades!
ExcluirVolte sempre, faremos o possível para manter nosso Blog atualizado!
Abraços!
Maravilhosa notícia, os muros da exclusão sendo derrubo. Deus é fiel!
ResponderExcluirAmém! Deus é fiel! Nossa geração tem presenciado o início de novos tempos no Brasil!
ExcluirQuais os horários cultos?e os dias?
ResponderExcluirPoderia alguém informar no meu zap
81090526
Enio
Parabéns ao pastor pela iniciativa e aos membros da igreja que votaram a favor!Que o espirito santo de Deus continue a quebrantar corações preconceituosos,para que todos tenham o direito de participar de uma casa de oração sem ter que se submeter a hipocrisia de alguns que se jugam santos e esqueceram a importância do sacrifício de JESUS ao vir nos ensinar a amar nosso Deus em espirito e em verdade e ao nosso semelhante como a nós mesmo...
ResponderExcluirSe soubessem quantos precisam ser acolhidos e orientados espiritualmente sem que sejam apontados julgados...vejo varias pregações que falam do amor de DEUS e o mesmo que fala do amor de Deus é preconceituoso em sua pregação,outro dia em uma pregação ouvi um pastor conhecido pregando que o povo de Deus não deve se hospedar em hoteis e moteis que era local de gays e prostitutas que procurassem pousadas ou seja,nas pousadas não entra gays eles carregam placas de aviso?Uma pregação preconceituosa...A palavra diz "Vinde a mim todos os que estais cansados de carregar suas pesadas cargas, e Eu vos darei descanso.Tomai vosso lugar em minha canga e aprendei de mim, porque sou amável e humilde de coração, e assim achareis descanso para as vossas almas...Mateus 11:28. Não consigo enxergar Jesus ao dizer essas palavras completa com a frase"Menos os homossexuais,prostitutas e todo aquele que a sociedade exclui.Jesus disse:Esse povo se aproxima de mim com sua boca,me honra com seus lábios,mas seu coração esta longe de mim!Creio que o Deus que prego e amo esta mais preocupado com meu coração e minha conduta do que com quem escolhi para amar e ser amada,pois DEUS é AMOR,e por favor diferencie estou falando de amor não de promiscuidade.Agradeço a oportunidade do desabafo!
assim é que se constrói um mundo melhor e uma humanidade mais feliz!!!
ResponderExcluirparabéns pela grande iniciativa.