terça-feira, 18 de outubro de 2011

A História de uma Família - Parte 1- Infância


Gostaria de agradecer à minha família, Neil, Jolleen e Karla, por sua franqueza, honestidade e disposição de compartilhar uma parte muito privada das nossas vidas.

Neil e eu nos encontramos como estudantes num grupo de jovens batistas em 1965. Ambos fomos criados em comunida­des cristãs conservadoras. Enquanto Neil tinha uma abordagem questionadora, a forma como fui criada me levou a aceitar os valores cristãos tradicionais dos meus pais, que eram líderes em nossa igreja batista local.

Devido a meu grande interesse por crianças, tornei-me pro­fessora, especializando-me na educação de mudos. Isto me le­vou a Christchurch em 1965, onde conheci Neil, que estava es­tudando Física na universidade.

Durante nossos três anos de namoro, fizemos parte de um grupo de igreja muito estimulante em termos intelectuais, onde estudávamos a teologia mais recente. Comecei a questionar mui­tos ensinamentos batistas conservadores que antes eu considera­va absolutos, embora ambos preservássemos valores morais e éticos muito tradicionais, excluindo álcool, drogas e contato sexual antes do casamento. Preparando nosso matrimónio, le­mos muitos livros, frequentamos cursos e discutimos todos os tópicos possíveis. Compartilhávamos uma profunda preocupa­ção pela paz e justiça, participando das primeiras demonstra­ções antinucleares e apoiando o movimento anti-apartheid.

Nossas trajetórias teológicas pessoais nos levaram ao ponto em que ambos rejeitamos nossas imagens de Deus da infância. Para nós Deus não é externo e masculino, mas é a fonte da vida e do amor em todos nós.
Como cristãos acreditamos que todas as pessoas são feitas à imagem de Deus. Encaramos todas as pessoas como "pessoas inteiras". Está bem claro que Jesus enxergava além das aparên­cias externas da pessoa. As pessoas sentiam e sabiam do amor e da aceitação de Jesus, tanto faz se eram velhas ou jovens, paralíti­cas ou perfeitas, homens ou mulheres. Constatamos que é mais criativo e demonstra mais amor celebrar nossas diferenças e des­cobrir as ricas e diversificadas contribuições que cada um de nós pode dar para nossos relacionamentos e para a sociedade.

Neil e eu nos casamos em 1968. Continuei a ensinar crianças surdas e Neil começou a pesquisa para a tese de doutorado. Em 1971 nasceu Jolleen. Pouco depois nossa nova família se mudou para Montreal, onde participamos de atividades muito diversas e nos deparamos com grande variedade de atitudes. Participáva­mos ativamente de uma interessante congregação presbiteriana que estava tentando oferecer uma comunidade de apoio no cen­tro da cidade.

Depois de voltarmos para a Nova Zelândia Aotearoa, nasceu Karla em 1974. Para dar às nossas filhas uma infância rica e va­riada, foi muito importante para mim estar com elas nos anos de sua formação. Envolvi-me em sua pré-escola, um playcenter de famílias cooperativadas, e ampliei meu treinamento de modo a incluir o desenvolvimento infantil e educação dos pais em nível de pré-escola.

Na pré-escola Jolleen rapidamente passou a liderar atividades bastante agitadas, tomando a frente de um grupo de crianças em brincadeiras tipo aventura. Não me dei conta de que os meninos não sabiam que Jolleen era menina até certo dia em que ela usou um vestido e eles me perguntaram quem era essa nova menina. Inicialmente a rejeitaram, mas quando descobriram que suas brin­cadeiras não eram mais as mesmas sem ela, readmitiram-na no seu grupo. Isso mostra quão cedo pode começar a estereotipagem e o preconceito.

A partir dos três anos de idade, Jo manifestou o desejo de ter nascido menino. Ao ser perguntada por quê, disse que "queria ser forte e valente" e "somente meninos fazem coisas legais". Pas­samos bastante tempo mostrando-lhe que ela podia ser quem ela quisesse ser. Descobrimos que nenhum dos livros que estávamos lendo tinha um personagem principal que fosse uma menina envolvida em aventuras. Fizemos ampla pesquisa nas livrarias e não conseguimos encontrar sequer um livro assim.

A nossa família sempre foi tolerante e carinhosa para com todas as pessoas. Tendo trabalhado por muito tempo com crian­ças deficientes, eu já havia percebido como pode ser difícil ser diferente. Sempre que víamos algum tipo de injustiça, nós o mos­trávamos para as nossas filhas e pensávamos em soluções. Ambas têm consciência social muito bem desenvolvida.

Envolvi-me também no movimento feminista dos anos 70 e realmente gostava da atmosfera e das ideias que partiam do mo­vimento. Neil nunca se sentiu ameaçado por isso e concordava que existiam muitas injustiças impostas às mulheres no mundo. Durante esses anos, encontrei-me pela primeira vez com mulhe­res lésbicas. Depois de uma sensação de desconforto inicial, de­senvolvi uma compreensão e aceitação delas como mulheres como eu, cuja única diferença era sua orientação sexual.

Tivemos o privilégio de passar um ano nos Estados Unidos em 1980/81. Isso proporcionou a Jo e Karla uma experiência educacional totalmente diferente, e nossa família encontrou uma admirável congregação da United Church of Christ, que não jul­gava, mas integrava um grupo muito diversificado de pessoas que não pensavam necessariamente da mesma maneira, mas res­peitavam os pontos de vista das outras pessoas.

(Continua na próxima semana. Não perca!)

Um comentário:

  1. Gostei muito do seu blog acho que seria interessante fazermos uma parceria, aguardo sua resposta.

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