segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Palavra aos Pais Cristãos de LGBTs


Em certo culto de minha igreja, Comunidade Athos, inclusiva, notei a presença de uma jovem senhora. Seu semblante logo me chamou a atenção: seu olhar era triste, traduzia certa frustração e um forte sentimento de impotência e incerteza, embora estivesse atenta ao culto como que a buscar um refrigério para seu coração. Durante as apresentações daqueles que estavam ali pela primeira vez, descobrimos que se tratava da mãe de um de nossos membros, cuja relação homoafetiva já dura mais de dois anos. Lembro-me de ter participado do culto apresentando um louvor. Ao fim da celebração, algo curioso aconteceu: aquela mulher procurou-me e me disse: “estou com muita vontade de abraçar você!”.  Ali, nos abraçamos, e, naquele abraço, pude perceber um sentimento de amor maternal. Talvez eu jamais entenda o significado daquele abraço, mas havia amor nele, pude sentir.

Senti que ela mulher cristã buscava respostas, buscava conhecer em que mundo seu filho vivia... Deus estaria ali? Deus ouviria e receberia aqueles gestos de oração, de adoração e louvor? Deus aprovaria os relacionamentos afetivos daquelas pessoas? Aquela busca por compreensão plena da condição de seu filho fez-me entender o quanto os pais podem sofrer pela condição homoafetiva de seus filhos. Foi uma experiência tocante.

É claro que em uma sociedade heteronormativa como a nossa, poucos são os pais que continuam a celebrar a vida de seus filhos ao saber que são gays ou lésbicas; poucos são capazes de enxergar o filho além de sua orientação sexual; poucos são os pais que os abraçam dizendo-lhes “Filho (a) está tudo bem! Nada mudou! Eu te amo da mesma forma!”; poucos são os pais que não se deprimem, que não se entristecem, que não pensam “o que os outros vão dizer, meu Deus?! O que fiz de errado?!” Tais reações e questionamentos são compreensíveis em virtude do contexto cristão em que vivemos.

Com os pais cristãos tais sentimentos são ainda mais intensos e destrutivos! Como entender que um filho, criado em um lar cristão, segundo os princípios bíblicos, tenha “se tornado” gay, lésbica, bissexual ou transgênero? Nesse ponto, em vez de ajudar, a Igreja reforça os conceitos tradicionais que imputam à homossexualidade um caráter doentio, degradante e até mesmo espiritual – sim! Falo de possessão demoníaca! É difícil a tais pais, conhecendo o caráter de seus filhos e a trajetória cristã de muitos, os aceitarem sob essa ótica! Entretanto, o que aprendem na igreja é forte demais para ser desconstruído de um momento para o outro. A maioria dos pais, infelizmente, age com intolerância e desamor, tornando ainda mais pesado o fardo que o filho carrega por ser diferente da maioria: alguns os expulsam de casa – último refúgio para tantos... Outros passam a tratá-los como seres estranhos, ovelhas negras ou a vergonha da família.

Sem respostas a oferecer – e, principalmente, sem o interesse em encontrá-las – a igreja escolhe a passividade e a violência simbólica, opta pelas velhas e ultrapassadas teorias da família desestruturada por pais ausentes, mães superprotetoras e abusos na infância, embora não sejam esses os casos da maioria das famílias cristãs que enfrentam problemas ocasionados pela homossexualidade de seus filhos. Na verdade, embora a Santa Inquisição tenha sido extinta, a igreja continua perpetuando uma postura que mata física, espiritual e emocionalmente, pais e seus filhos homossexuais, como se ambos fossem culpados.

Se pais e mães sofrem, não é diferente com seus filhos! Se filhos gays e lésbicas não encontram em casa um ambiente de acolhimento, compreensão e amor, certamente irão buscá-lo em outros lugares, que talvez os levem a um caminho sem volta. Absalão, filho de Davi, não encontrando em seu próprio lar a atenção e o cuidado de seu pai, rebelou-se, causando sua própria destruição.

Não é fácil para nenhum pai – ao menos para a maioria esmagadora – encarar a homossexualidade de um filho. Isso é fato. Mas é exatamente para isso que existe o amor! A resposta é e será sempre a mesma: o amor! O amor incondicional é capaz de passar por cima das diferenças tornando-as apenas um detalhe da diversidade humana, do homem e da mulher, criações divinas.

Mães e pais, acolham seus filhos, abracem-nos, amem-nos incondicionalmente! Essa é a vontade de Deus para todos quantos desejam cumprir seus mandamentos.

Sobre os sexualmente excluídos de sua época, leiam o que a Bíblia profetiza:


Porque assim diz o SENHOR a respeito dos eunucos, que guardam os meus sábados, e escolhem aquilo em que eu me agrado, e abraçam a minha aliança: Também lhes darei na minha casa e dentro dos meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará. Assim diz o Senhor DEUS, que congrega os dispersos de Israel: Ainda ajuntarei outros aos que já se lhe ajuntaram. Também os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a minha casa será chamada casa de oração para todos os povos. Isaías 56:4-5, 7 e 8

A Bíblia ensina os pais a amarem seus filhos, e não impõe nenhuma condição para isso! Nada há nas Escrituras que condicione o amor! Elas chamam os filhos de herança do Senhor (Salmo 127.3), quer sejam homens, mulheres, brancos, negros, deficientes, homossexuais ou heterossexuais.

Não permitam que o mundo leve seus filhos! Não permitam que outros ofereçam-lhes o amor que primeiro deve ser ofertado dentro do lar! E, principalmente, não permitam que seus filhos, herança do Senhor, se percam por sua incapacidade de amar como Cristo ensinou! Se não possui tal capacidade, ore! Peça ao Pai em nome de Jesus, e Ele mudará seu coração! 

Aos filhos excluídos por seus pais em virtude de sua sexualidade, deixo Isaías 49.16 e 16, para meditação, que diz:

“Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta viesse a esquecer-se dele, diz o Senhor – Eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas de minhas mãos te gravei...”

15 comentários:

  1. Olá, Vany e Aline! Bem-vindas ao Blog! Obrigado pelo comentário! Estejam sempre com a gente!

    Abraços fraternos,

    Alexandre Feitosa

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  2. Maravilhoso texto, Pr. Alexandre!
    Quem me dera se meus pais enxergassem que eu gostaria de poder, por exemplo, ter junto a mim meu namorado, em minha casa, para poder fazer o que qualquer casal de namorados faz, normalmente - assistir filme, ficar na varanda etc. Bem...eu sei que pensar em tais coisas serem possiveis pra nós, homoafetivos, é extremamente dificil. Mas eu não deixo de sonhar que um dia, mesmo que eu não more mais na casa de meus pais, eu possa sentar à mesa com eles e também com a pessoa que eu amo.
    Enquanto isso não é possível (muito pelos meus pais terem justamente medo do que os vizinhos podem ver ou ouvir), eu infelizmente vou vivendo minha vida afetiva me esgueirando pelos locais públicos, estes que também não temos quase liberdade afetiva nenhuma para poder nos expressar...
    Sei que eu não deveria alimentar qualquer sentimento que simbolize ódio ou raiva...mas as vezes me deparo com casais heterossexuais, com toda aquela liberdade que eles tem, todas aquelas conversas livres sobre relacionamentos, e despreocupadas com que os outros vão pensar...me sinto muito pequeno, diminuído, hierarquizado por minha condição sexual.
    E os heteros ainda querem inventar o "dia do orgulho hetero"...humilhação maior não há...
    Deus me perdoe pelos pensamentos raivosos e irados...

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  3. Olá, Angelo. Obrigado pela participação no Blog!

    Entendo como você se sente. Muitos de nós sentem o mesmo pois infelizmente ainda somos marginalizados por nossa condição afetiva.

    Sua ira não é descabida, mas cada um de nós pode fazer a diferença, apesar de tudo! Oremos e trabalhemos para que a geração futura tenha um mundo melhor e mais sensível às diferenças!

    Volte sempre!

    Abraços.

    Alexandre Feitosa

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  4. Uau, texto perfeito, me emocioeni com ele. pena que não encontro esta compreensão em casa!

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  5. Obrigado, Jeovanne! Toda semana temos uma nova postagem! Esteja sempre conosco!

    Abraços fraternos,

    Alexandre Feitosa

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  6. Alexandre, graça e paz!

    Este, em minha opinião, tem sido um dos seus melhores textos. Para que toda essa falta de compreensão acabe, precisamos muito de oração e testemunho de vida para que eles - os pais - possam ver em nós a "normalidade", pois somos normais.

    Irei intensificar mais em minhas intercessões para as familias que, infelizmente, sofrem essas dores da incompreensão.

    Contem comigo. Sempre. Lado a lado. S2. = .)

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  7. Ola Jean! Graça e paz!

    De fato oração é fundamental no processo de aceitação familiar. O testemunho, então, esse é imprescindível, pois como cristãos, devemos ser sal e luz, visíveis e sensíveis nesta terra!

    Oremos sempre!

    Alexandre Feitosa

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  8. Olá Alexandre! Eu tenho um filho homossexual e minha primeira reação foi chorar muito, e falar pra ele que eu iria protegé-lo de todos. Fiquei em choque uma semana,pedindo a Deus para não mandar meu filho pro inferno. Criei um perfil falso no Orkut,fiz um blog, e conhechi pessoas cristãs maravilhosas que me informaram e ensinaram muitas coisas. Em todos os posts havia muita preocupação e carinho por mim. Então percebi que era Deus falando comigo, pois essas pessoas não me conheciam mas queriam me aliviar, me ajudar a não sofrer e aceitar. Entendi que meu filho é o mesmo filho de sempre, que Deus tem um propósito em nossas vidas e eu devo ser util a Ele e tentar ajudar pais e filhos que sofrem por causa da homossexualidade. Eu ainda não "sai do armário" totalmente. Sou da Igreja Presbiteriana e ainda está dificil pra mim, mas eu e meu filho somos muito amigos e ele não sofre por ser homossexual. Temos a Deus presente todos os dias. Ele conhece nossos corações e Nele descansamos! Obrigada por esse texto maravilhoso!

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  9. Olá, Ana Maria! Que contribuição maravilhosa foi seu comentário!

    Fico feliz que nossas reflexões estejam agradando todos aqueles que, de alguma forma, enfrentam dificuldades por causa da homossexualidade, seja própria ou de um filho, como é seu caso.

    É muito bom ter a palavra de uma mãe, exatamente porque esse texto foi feito exatamente para os pais e sua participação enriqueceu muito o nosso debate.

    Que Deus abençoe sua vida e de seu filho também!

    Volte sempre e fique à vontade para enviar mais contribuições.

    Abraços fraternos,

    Pr. Alexandre Feitosa

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  10. Pode contar comigo sempre que precisar! Vc esta em meu orkut! Eu precisei muito conversar com pais na época que descobri do meu filho, mas não achei ninguém. Só depois de um tempo achei a Lucilene Moraes, de RJ, e foi maravilhosa comigo! Criei uma comunidade para pais, "Meu filho e homossexual", com a intenção de conhecer e conversar com pais, mas não tive sucesso. Sei como é o sofrimento dos pais e por isso quero colaborar de alguma forma para que eles entendam que nossos filhos não deixaram de nos amar por ser homossexuais!! Nós acompanhamos a vida deles e sabemos que eles não optaram por ser homossexuais. Nós somos os únicos que conhecemos tudo deles e por isso não devemos agir como se nosso filho fosse uma pessa desconhecida.
    Um filme que me ajudou muito foi "Orações para Bobby". Depois de assisti-lo, eu percebi que eu era a mãe do Bobby e chorei muito, durante vários dias.
    Aprendi muito e ainda estou aprendendo, porque a aceitação é um processo, mas com meu filho esta tudo bem, graças a Deus e ele continua sendo meu maior orgulho!

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  11. Pastor Amado, boa tarde;

    Gostaria de publicar nosso agradecimento a tão preciosa contribuição ao evangelho que inclui a todos, obrigado porque sabemos das muitas dificuldades hoje em tentarmos amenizar fardos tão pesados que por falta de entendimento, amor e compreensão pairam sobre muitas famílias, que Deus continue o abençoando e dotando-o de muita sabedoria para juntos prosseguirmos nesta caminhada.

    Pr. Wagner Almeida

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    Respostas
    1. Amém, Pastor Wagner Almeida!

      Cada depoimento, cada testemunho, é um fruto visível de Deus para este chamado de resgatar vidas, restaurá-las em Deus e incluí-las à igreja do Senhor! Missão que inclui, obviamente, a família.

      Obrigado por seu depoimento! Continue orando por este ministério, que não é apenas, meu, mas de cada um de nós, chamados e impelidos pelo Espírito Santo!

      Abraços fraternos,

      Pr. Alexandre Feitosa

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