segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Lésbica, Pais Cristãos, Um Desabafo...


O texto abaixo foi incluído aqui, principalmente para dar exemplos da vida real de pessoas de orientação homossexual e de como enfrentaram sua situação. Trata-se de mais uma ilustração do ponto de vista já manifestado de que, enquanto cristãos, nossa discus­são de questões ligadas à homossexualidade somente pode ser eficaz se pensarmos em termos de pessoas reais, e não só em termos de ideias e preconceitos da nossa herança cultural.


Eu sou lésbica. Também sou musicista, amiga, esportista, cozi­nheira, "do lar" e ser humano. A maioria desses atributos não tem sido causa de irritação ou desprezo por parte de outras pessoas. Por alguma razão ilógica minha orientação sexual é o foco da aten­ção de muita gente, acima e além de todas as outras partes da minha personalidade que me fazem quem eu sou.

Fui criada numa família branca, de classe média, pai e mãe, uma irmã, neste país rico e predominantemente cristão que é a Nova Zelândia. Com todos os privilégios da minha criação, não me faltaram oportunidades na infância. Mas todas as oportuni­dades do mundo não me pouparam das realidades da vida.

Na minha língua, que é o inglês, eu optei por me chamar de queer (diferente, estranho), uma vez que esse termo para mim engloba gays, lésbicas, pessoas transexuais e bissexuais. Essa pa­lavra tem sido usada como termo depreciativo, mas eu optei por resgatá-la como termo inclusivo para aquelas pessoas entre nós que têm orientação sexual diferente das pessoas heterossexuais. Tenho orgulho de pertencer a esse grupo de pessoas que estão lutando para educar gente ignorante e intolerante no sentido de que ser queer não é ruim, nem doentio, nem pecaminoso.

Mas embora a vasta maioria de nós leve uma vida perfeita­mente aceitável e, ouso dizer, normal, continua existindo um segmento da sociedade que abusa de nós na mídia, em nossos empregos e em nossas comunidades.

Fico perplexa e acho ridículo que boa parte desse abuso pro­vém de organizações e igrejas cristãs. Fui educada por pais cris­tãos e frequentei uma igreja presbiteriana até os 15 anos. Não sou cristã nem pertenço a uma organização religiosa ou a um grupo religioso. Não compreendo como gente que se chama cristã possa pregar amor e perdão para alguns e ódio e condena­ção para outros.

Depois, há aquelas pessoas que dizem apoiar a comunidade gay, lésbica, transexual e bissexual, mas continuam a perpetuar mitos acreditando que a vida seria mais fácil para nós se fôsse­mos heterossexuais. A vida com certeza seria mais fácil para nós se acabasse a intolerância de alguns heterossexuais. E uma gros­seria e um insulto ouvir dessa gente que prega a aceitação que, para a vida ficar mais fácil para mim, quem deve mudar sou eu, e não eles.

Cerca de quatro anos atrás, tomei a decisão de que não mais me permitiria reprimir minha orientação sexual só para não cau­sar embaraço a outros que não aceitam as pessoas como elas são. Tomei a decisão muito pessoal de ser franca sobre minha homossexualidade de uma forma não-confrontacional, em to­das as situações sociais. Seria legal não ter que fazer isso, mas parece ser a única maneira de fazer com que parem de supor que eu seja heterossexual. O processo de se assumir publicamente é profundamente pessoal, e revelar a orientação homossexual de um indivíduo sem a sua permissão é invadir sua privacidade.

Ser lésbica é muito mais do que simplesmente ter uma relação sexual com outra mulher. Compartilhamos uma parceria cheia de amor, prazer e compromisso. Na minha opinião, esse é o tipo de relação que a Igreja poderia e deveria apoiar.

Espero que isso aconteça enquanto eu estiver viva.*

Jolleen Cherry

Confira nos artigos mais recentes, a história da família de Jollen contada por sua mãe!

Depoimento extraído do livro Encarando nossas diferenças, do pastor presbiteriano Alan A. Brash.


6 comentários:

  1. Bom dia amigo Alexandre!

    Essa História é parecidíssima com a minha... Me vi em quase tudo!
    Fiquei emocionada. Beijos.

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  2. Olá, Lidiane! Que bom receber um comentário seu!

    Pois é... acredito que muitos se identificaram com essa história, principalmente nós que viemos de lares cristãos.

    Esteja sempre por aqui! A casa é sua!

    Beijos!

    Alexandre Feitosa

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  3. Linda a história! A parte que mais gostei foi o trecho onde ela diz que

    "O processo de se assumir publicamente é profundamente pessoal, e revelar a orientação homossexual de um indivíduo sem a sua permissão é invadir sua privacidade".

    Sair do armário é um processo doloroso e difícil. Contudo, isso seria mais suave se os pais soubesse como lidar com a situação a partir do momento que desconfiassem dessa característica nos filhos.

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  4. Uau, ela disse tudo o que eu realmente penso, adorei esta postagem, a melhor do seu blog até o momento, não desmerecendo as outras, mas ela é mais profunda!

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  5. Olá, Jeovanne! Obrigado pelo comentário!

    É um lindo texto mesmo, sensível, realista, profundo!

    Em breve publicarei a história da família de Joleen escrita pelos seus pais! Está imperdível!

    Abraços e volte sempre!

    Alexandre Feitosa

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  6. Alexandre, graça e paz! Bom dia!

    Nós já conversamos alguns pontos que vão ao encontro do texto acima e o principal é: encontro-me neste momento de estar a me abrir mais uma vez para o mundo acerca da minha condição sexual, ou seja, da minha homoafetividade. E que hoje graças a Deus e a ti vivo de forma plena. Isso não tem preço.

    Lembremos que Deus é conosco. Sempre.

    Ele tem salvado pessoas por meio de nós.

    Saudades... juntos! = .)

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