terça-feira, 20 de setembro de 2011

Resposta ao CAB - Conselho Apostólico Brasileiro


Ontem – 19.09 – recebi um e-mail um tanto curioso: ao passar os olhos pelo documento anexo senti certo desconforto e um quê de desconfiança. Logo na primeira página, deparei com nomes conhecidos como Valnice Milhomens, Jesher Cardoso e Márcio Valadão. Mas, do que trata o referido documento? Bom, trata-se de um pronunciamento do CAB – Conselho Apostólico Brasileiro – às lideranças evangélicas brasileiras. Vários trechos do pronunciamento mereceriam uma discussão mais profunda em virtude de seu caráter duvidoso e controverso, entretanto, nosso espaço aqui é limitado, portanto, comentarei poucos trechos. Leia o documento na íntegra AQUI.

Seus membros – em sua maioria, apóstolos! – reuniram-se nos dias 22 e 23 de agosto para buscar a direção de Deus a fim de “discernir os dias em que vivemos”. Desse encontro, surgiu um movimento denominado “70 Dias de Arrependimento”, que deverá mobilizar os evangélicos brasileiros entre os dias 04 de setembro e 15 de novembro deste ano. O documento, dentre outras coisas, lista 16 motivos pelos quais a Igreja deve se envergonhar e se arrepender. Dentre eles:

“Envergonhemo-nos diante do Eterno e nos arrependamos:

Pelos Movimentos simpáticos à prática do homossexualismo dentro da Igreja de Cristo e até igrejas que abençoam tais relacionamentos e ordenam ao Ministério pessoas na prática deste tipo de pecado.”

Como líder em uma Igreja Inclusiva, posso afirmar que sua teologia favorável à inclusão de cristãos de orientação homossexual tem sido benéfica para muitas pessoas, ao contrário dos resultados trágicos ocasionados pela Confissão Positiva/Teologia da Prosperidade apregoada pela maioria dos líderes do CAB. Os membros do conselho esqueceram-se de mencionar que é motivo de vergonha e arrependimento a disseminação e a prática de tais heresias, perigosas e destrutivas, pois afirmam que o verdadeiro cristão deve ter saúde perfeita e o direito de exigir de Deus o que há de melhor em termos de bens materiais: da melhor roupa ao melhor carro. Ao afirmarem que temos a mesma natureza de Deus, nossa fé positiva concretizará aquilo que proferirmos e decretarmos pela força de nossas palavras.

Em momento algum mencionam que devem sentir vergonha e arrependimento pelos milhares de cristãos que tiveram sua vida destruída e sua fé minada pelas falsas promessas de saúde e riqueza. Muitos morreram por abandonar tratamentos médicos, acreditando nas mesmas promessas. De quem é a culpa pela perda dessas vidas? Não seria razão suficiente para envergonhar-se e arrepender-se?  Paulo Romeiro, em seu livro “Super Crentes”, faz alguns relatos de tragédias ocasionadas pela Confissão Positiva/Teologia da Prosperidade.

Outro trecho que me soou incoerente foi o seguinte:

“A igreja cresce no Espírito a cada dia. Embora muitos erros e distorções tenham sido cometidos, verdadeiros apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres têm sido levantados pelo Espírito Santo, para os fins designados por Cristo para a Igreja.”

Será que nenhum dos membros do CAB lembrou-se de que a ex-pastora, hoje apóstola, Valnice Milhomens “profetizou”, por meio de cálculos controversos, a segunda vinda de Jesus para um sábado de 2007? Aquele ano passou, Jesus não voltou, Valnice desconversou e ficou por isso mesmo. O tempo, porém, tratou de desmascarar suas falsas previsões. O CAB, ao que parece, preferiu ignorar tal fato.

Além de Valnice Milhomens, são membros do CAB Neuza Itioka, Jesher Cardoso e Arles Marques, nomes influentes na propagação da Confissão Positiva/Teologia da Prosperidade.  E por falar em falsas profecias, ano passado, Neuza Itioka lançou uma carta sugerindo que a vinda do Messias ocorrerá no ano de 2017!

Certamente muitas das razões relatadas no documento são motivo de vergonha e arrependimento para a igreja brasileira atual. Como exemplo, podemos citar a comercialização da adoração, a idolatria a líderes cristãos, o uso de recursos da igreja para benefício próprio, dentre outras. Entretanto, no que se refere às pessoas de orientação homossexual, é evidente para nós, cristãos inclusivos, que Deus não revelaria as razões expostas no tal pronunciamento.

Vergonha e arrependimento devem ser resultados de ações conscientes próprias, não de ações alheias. Não há, entre os líderes do Conselho, nenhum pastor ou pastora que seja “simpático” ou defensor da Teologia Inclusiva, portanto, é incoerente que tais lideranças devam envergonhar-se, muito menos arrepender-se pelas Igrejas Inclusivas e suas convicções.  Se há igrejas inclusivas não é pela simples existência de “movimentos simpáticos ao homossexualismo”, mas pela exclusão que os cristãos homossexuais sofrem por parte das igrejas tradicionais. Nesse sentido, sim, há razões de vergonha e arrependimento. Tais líderes e suas igrejas deveriam envergonhar-se e arrepender-se:

1) Por excluir pessoas em virtude de sua condição afetivossexual;

2) Por ignorar a presença de homossexuais sinceros que buscam avidamente por respostas e principalmente, por amor e compreensão e, não encontrando, abandonam o rebanho, tornando-se órfãos por não se sentirem dignos;

3) Por recusar-se a compreender com maior profundidade a homossexualidade e o valor dos cristãos com essa orientação sexual, bem como sua importância no Corpo de Cristo;

4) Por impedi-las de exercer a vocação sacerdotal para a qual muitos são chamados;

5) Por incentivar casamentos fadados ao fracasso;

O documento formulado pelo CAB é, nesse sentido, contraditório, pois, defendendo a justiça social, ignora uma parcela significativa da sociedade historicamente desfavorecida pelas leis brasileiras:

“Cresce na igreja uma preocupação com questões de justiça social e com o cuidado dos necessitados de nossas cidades e nação.

Entendemos que o Arrependimento verdadeiro deve ser manifestado através de frutos dignos de arrependimento, e motivamos que a Igreja de Cristo, em todas as localidades de nosso país, para que se movam na causa dos pobres, órfãos, viúvas e desamparados de todos os tipos nas nossas cidades.

Desejamos exortar a igreja a participar dos "Atos de Justiça" que enfeitam, ataviam, a noiva de Cristo neste momento.

- Atendimento aos menos favorecidos: pobres, órfãos e viúvas;
- Atendimento aos marginalizados da sociedade;”

Verdadeiros Atos de Justiça não excluem, não oprimem, não matam, antes refletem o amor incondicional de Deus. O CAB e seus mentores deveriam analisar melhor suas propostas antes de classificar todas como orientação divina. O primeiro passo para isso acontecer é voltando ao erro cometido, arrepender-se dele e, o mais importante, corrigi-lo!

“Tenho, porém, contra ti, que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas.” Apocalipse 2:4-5


6 comentários:

  1. Ale, como sempre, arrasando nos comentários e na defesa da teologia inclusiva!!!

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  2. Obrigado pela participação Rick! O feedback de vocês é importantíssimo para nosso ministério!

    Que Deus te abençoe ricamente!

    Abraços fraternos,

    Alexandre Feitosa

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  3. Simplesmente perfeito, mas olha, mudando um pouquinho de assunto, eu não vou a igreja, não acho necessário (na minha opinião), acho que posso levar uma vida adorando a Deus e sendo feliz fora da Igreja.

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  4. Olá, Jeovanne. Tudo bem? Obrigado, mais uma vez, pela participação!

    Fico feliz que você esteja servindo a Deus! Isso é maravilhoso!Nós, eu e você, somos membros do Corpo de Cristo, a Igreja, dessa forma, quando podemos exercer essa função juntamente com outros membros, nossa vida cristã torna-se mais frutífera e satisfatória.

    Não conheço o que te leva a estar distante da Igreja, mas não custa nada você tentar encontrar um grupo para interagir com ele! Tenho certeza de que você poderá se surpreender positivamente!

    Que Deus te abençoe! Esteja sempre conosco!

    Abraços fraternos,

    Alexandre Feitosa

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  5. É só me resta seguir aquilo o que Cristo ensinou "orar pelos que vos perseguem" de resto nada me afastará do amor de Deus.

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  6. Comentário enviado por Sidcley Alves de Souza, via e-mail:

    Verdadeiramente este foi o melhor texto deste blog desde que o acompanho. Parabéns, Alexandre. Ideias claras, coerentes. Não quero aqui chamar a atenção para a defesa do evangelho inclusivo. Quero chamar a atenção para a hipocrisia, falta de vergonha e falta do que fazer deste tal CAB.

    É incrível como o ser humano é hipócrita e como procura meios para esconder a própria merda, o próprio pecado. A atitude este tal CAB, é revoltante. Gostaria de compará-la a um caso recente, noticiado pela mídia: em Uganda, um dos países mais pobre da África, o Congresso, com apoio de influentes parlamentares está votando uma lei, que pune com a morte casos de homossexualidade. Motivo? Deus não tolera o homossexualismo, e, irado com Uganda, tem enviado pragas como a Aids, secas e fome.

    Solução: Mate os gays, Deus se acalma, e volta a abençoar. Mas perae: se usam a bíblia para condenar o homossexualismo, não está lá também a condenação ao adultério, à prostituição, ao tráfico de seres humanos? Então que Deus é esse que pune Uganda somente pelos gays e faz vistas grossas à prostituição, à pedofilia, ao estupro e ao adultério, práticas extremamentes comuns em Uganda? Só para se ter uma ideia, Uganda é um dos maiores fornecedores internacionais de seres humanos para prostituição e pedofilia. Ah, mas se votassem uma lei assim, mexeria com gente poderosa, usuária destas práticas. Então, morte apenas aos gays. Já aplaca a sede de sangue da sociedade, dá a ela um culpado, esconde os reais motivos da pobreza e fome e secas no país( corrupção, falta de investimentos, falta de infraestrutura, falta de educação e saúde) e mantém as coisas como estão. Voltando ao tal manifesto do CAB, aqui no Brasil, a ideia é a mesma.

    Diante de tanta coisa que tem desgraçado a fé no Brasil, diante de tanta coisa para a Igreja se arrepender, diante de tantas mazelas sociais para lutarmos contra, o que é que este bando de dinossauros bíblicos reúne e encontra como motivo: arrepender por existirem gays na Igreja. Ah, faça-me o favor gente!

    E o que dizer das Igrejas destes tais senhores, que são verdadeiros Papas em seus Pontificados, vivendo de maneira nababesca? Refletem o Filho do Homem, que não tinha onde reclinar a cabeça? E as pessoas humildes, roubadas diariamente nestas Igrejas, com seus sistemas de arrecadação, que mais parecem as coletorias romanas? E a omissão destas Igrejas diante das desgraças sociais que acontecem todos os dias neste país? Alguém viu tal Conselho se reunir e conclamar seus membros em ações nas chuvas em Santa Catarina, na violência que assola o país, em movimentos contra políticos corruptos? Claro que não, afinal muitos destes ladrões que nos governam são membros destas Igrejas.

    E a vergonha a que somos expostos diariamente por crermos em Deus e vermos todos os dias, bispos e pastores envolvidos em escândalos de lavagem de dinheiro, corrupção, aliciamento, é bispo e bispa com dinheiro não declarado tentando entrar nos EUA, é bispo chefão que não sai das páginas do Ministério Público é chefe de Igreja envolvido em escândalos fiscais....
    Realmente, o que mais desgraça a Igreja "pura, santa, justa, equilibrada" no Brasil é a presença destas bichas, destes gays. Então, morte a eles!

    E o resto? Ah, deixa pra lá! Deus nem liga. E a sociedade brasileira não preocupa. Quando chegarmos ao Céu, a gente paga um café pra Deus. E como no Brasil, não se fala mais no assunto!!!

    Sidcley Alves de Souza

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