Por Alexandre Feitosa
Simplesmente
porque a graça divina inclui a TODOS e nenhuma interpretação bíblica pode
suplantar ou limitar essa verdade. A graça está acima de qualquer interpretação
teológica. Ela é um dom de Deus ofertado gratuitamente à humanidade sem
qualquer tipo de distinção. Não há limites ou condições para a graça (Efésios
1.4-7, 2.8). Os bens resultantes do sacrifício de Cristo são irrevogáveis e ilimitados em seu alcance (Tito 2.11). Isso
implica dizer que toda interpretação bíblica proposta pela Teologia Inclusiva
deve passar por Jesus, por sua obra redentora, convergindo sempre em direção à
graça.
A TI propõe uma reconciliação entre as denominações cristãs majoritárias e a comunidade LGBT, que permanece à margem da Igreja. A TI enfatiza que a graça independe da constituição sexual imposta pela heteronormatividade. Objetivando o resgate e a salvação de vidas, essa reconciliação é necessária e urgente a fim de que os excluídos da nossa geração possam integrar a Nova Aliança. Na Nova Aliança, a fé em Jesus nos garante o status de filhos de Deus. A graça simplesmente ignora todas as diferenças que singularizam ou categorizam os seres humanos. Segundo os olhos da graça, todos são iguais:
28 Não há judeu nem grego, escravo nem
livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. Gálatas 3. 28
11 Nessa nova vida já não há
diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita,
escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos.
Colossenses 3.11
A
TI, em sua abordagem sobre a
diversidade sexual, constitui um suporte, uma ferramenta para facilitar o
anúncio do Evangelho à comunidade LGBT. Por séculos, essa comunidade acreditou
na condenação bíblica à sua constituição sexual. Sendo assim, a
TI procura desmitificar os textos do terror, derrubar a muralha da culpa e
abrir caminho para que os sexualmente excluídos possam ser alcançados pelo
plano de salvação: crer e receber Jesus (João 1.12) e experimentar a
testificação do Espírito, a qual traz a certeza de que somos filhos de Deus
(Romanos 8.16).
Em
dez anos trabalhando pela inclusão, constatamos que:
"A maioria dos
cristãos LGBT só conseguiu assimilar plenamente a mensagem da graça após
compreender que não há condenação bíblica à sua orientação sexual, à sua
expressão afetiva e à sua identidade de gênero. Tal fato demonstra que os
estudos teológicos com foco na homossexualidade/identidade de gênero não devem
ser ignorados, mas são imprescindíveis às igrejas que abraçaram a inclusão
[...] Desmitificar teologicamente a condenação à homossexualidade e às
identidades transgêneras não tira o mérito do Evangelho, antes, abre caminho
para a plena manifestação da graça sobre cada LGBT desejoso por servir a Cristo
e por compor a Igreja".[1]
Uma
teologia inclusiva é fundamental para corrigir séculos de exclusão a que foram
expostas as pessoas LGBT. Nesse sentido, a Teologia Inclusiva surge como uma
proposta ousada: uma revisão criteriosa sobre o que diz a Bíblia acerca do
assunto. Ela é necessária para promover o encontro entre as minorias sexuais e
as Escrituras, construindo um sentimento de afirmação e empoderamento no
coração daqueles que se sentem excluídos da Bíblia ou condenados por ela. A TI
entende que:
"Se
alguma interpretação bíblica marginaliza, limita ou exclui qualquer categoria
da diversidade humana [da abrangência] da graça divina, esta deve ser
revista"[2].
A
Teologia Inclusiva busca combater leituras que ocorrem sem os critérios
hermenêuticos e exegéticos adequados. Seu método interpretativo propõe uma
revisão de todo texto bíblico cuja leitura exclua, oprima, adoeça
emocionalmente e marginalize seres humanos em razão de suas singularidades
sexuais e afetivas. Entretanto, "toda
interpretação bíblica proposta pela Teologia Inclusiva deve passar pelas
verdades do Evangelho, refletindo-o em suas afirmações.[3]”
As proposições da TI não interferem nos princípios bíblicos fundamentais
(Atos 15.1-21), pelo contrário, tem sido uma abordagem que busca resgatar
verdades essenciais esquecidas ou ignoradas.
Uma de suas principais conquistas
consiste em uma rigorosa revisão hermenêutica e exegética dos textos do terror[4],
utilizados constantemente para ferir a dignidade das pessoas LGBT, negando-lhes
um espaço para o exercício da fé a não ser que renunciem sua sexualidade/afetividade. A
liberdade é uma conquista da cruz, incompatível com o cativeiro emocional
resultante da pregação religiosa tradicional sobre a homossexualidade (Gálatas 5.1).
A liberdade é a pedra fundamental do Cristianismo, é uma
conquista outorgada por Jesus, capaz de remover as velhas culpas, neutralizar
palavras de acusação, a ameaça dos fundamentalistas e as pressões sociais e familiares.
A liberdade em Cristo destrói o desejo de agradar aos outros e concede-nos a
segurança necessária para vivermos confiantes quanto à salvação.
*Artigo adaptado do Capítulo 2 do livro Teologia Inclusiva: Fundamentos, Métodos, História,Conquistas. Adquira o seu clicando na foto abaixo:
[1]
FEITOSA, Alexandre. A Igreja Trans. Oásis Editora,
Brasília, 2012, p. 69.
[2] Alexandre Feitosa. Lições Bíblicas Conhecimento e Graça. Oásis
Editora, Brasília, 2014.
[3] Idem.
[4] Referência aos versículos
bíblicos comumente utilizados como argumento bíblico contra a homoafetividade,
a saber, Gênesis 19.5, Levítico 18.22 e 20.13, Romanos 1.26 e 27, 1ª Coríntios
6.9 e 10, 1ª Timóteo 1.10 e Judas 7.
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