segunda-feira, 6 de junho de 2016

Por que uma Teologia Inclusiva?*


Por Alexandre Feitosa

Simplesmente porque a graça divina inclui a TODOS e nenhuma interpretação bíblica pode suplantar ou limitar essa verdade. A graça está acima de qualquer interpretação teológica. Ela é um dom de Deus ofertado gratuitamente à humanidade sem qualquer tipo de distinção. Não há limites ou condições para a graça (Efésios 1.4-7, 2.8). Os bens resultantes do sacrifício de Cristo são irrevogáveis e ilimitados em seu alcance (Tito 2.11). Isso implica dizer que toda interpretação bíblica proposta pela Teologia Inclusiva deve passar por Jesus, por sua obra redentora, convergindo sempre em direção à graça.

          A TI propõe uma reconciliação entre as denominações cristãs majoritárias e a comunidade LGBT, que permanece à margem da Igreja. A TI enfatiza que a graça independe da constituição sexual imposta pela heteronormatividade. Objetivando o resgate e a salvação de vidas, essa reconciliação é necessária e urgente a fim de que os excluídos da nossa geração possam integrar a Nova Aliança. Na Nova Aliança, a fé em Jesus nos garante o status de filhos de Deus. A graça simplesmente ignora todas as diferenças que singularizam ou categorizam os seres humanos. Segundo os olhos da graça, todos são iguais: 

   28 Não há judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos são um em Cristo Jesus. Gálatas 3. 28
 11 Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos. Colossenses 3.11

A TI, em sua abordagem sobre a diversidade sexual, constitui um suporte, uma ferramenta para facilitar o anúncio do Evangelho à comunidade LGBT. Por séculos, essa comunidade acreditou na condenação bíblica à sua constituição sexual. Sendo assim, a TI procura desmitificar os textos do terror, derrubar a muralha da culpa e abrir caminho para que os sexualmente excluídos possam ser alcançados pelo plano de salvação: crer e receber Jesus (João 1.12) e experimentar a testificação do Espírito, a qual traz a certeza de que somos filhos de Deus (Romanos 8.16).
Em dez anos trabalhando pela inclusão, constatamos que:

"A maioria dos cristãos LGBT só conseguiu assimilar plenamente a mensagem da graça após compreender que não há condenação bíblica à sua orientação sexual, à sua expressão afetiva e à sua identidade de gênero. Tal fato demonstra que os estudos teológicos com foco na homossexualidade/identidade de gênero não devem ser ignorados, mas são imprescindíveis às igrejas que abraçaram a inclusão [...] Desmitificar teologicamente a condenação à homossexualidade e às identidades transgêneras não tira o mérito do Evangelho, antes, abre caminho para a plena manifestação da graça sobre cada LGBT desejoso por servir a Cristo e por compor a Igreja".[1]

Uma teologia inclusiva é fundamental para corrigir séculos de exclusão a que foram expostas as pessoas LGBT. Nesse sentido, a Teologia Inclusiva surge como uma proposta ousada: uma revisão criteriosa sobre o que diz a Bíblia acerca do assunto. Ela é necessária para promover o encontro entre as minorias sexuais e as Escrituras, construindo um sentimento de afirmação e empoderamento no coração daqueles que se sentem excluídos da Bíblia ou condenados por ela. A TI entende que:

 "Se alguma interpretação bíblica marginaliza, limita ou exclui qualquer categoria da diversidade humana [da abrangência] da graça divina, esta deve ser revista"[2].

A Teologia Inclusiva busca combater leituras que ocorrem sem os critérios hermenêuticos e exegéticos adequados. Seu método interpretativo propõe uma revisão de todo texto bíblico cuja leitura exclua, oprima, adoeça emocionalmente e marginalize seres humanos em razão de suas singularidades sexuais e afetivas. Entretanto, "toda interpretação bíblica proposta pela Teologia Inclusiva deve passar pelas verdades do Evangelho, refletindo-o em suas afirmações.[3]As proposições da TI não interferem nos princípios bíblicos fundamentais (Atos 15.1-21), pelo contrário, tem sido uma abordagem que busca resgatar verdades essenciais esquecidas ou ignoradas.
                     
          Uma de suas principais conquistas consiste em uma rigorosa revisão hermenêutica e exegética dos textos do terror[4], utilizados constantemente para ferir a dignidade das pessoas LGBT, negando-lhes um espaço para o exercício da fé a não ser que renunciem sua sexualidade/afetividade. A liberdade é uma conquista da cruz, incompatível com o cativeiro emocional resultante da pregação religiosa tradicional sobre a homossexualidade (Gálatas 5.1).
           
         A liberdade é a pedra fundamental do Cristianismo, é uma conquista outorgada por Jesus, capaz de remover as velhas culpas, neutralizar palavras de acusação, a ameaça dos fundamentalistas e as pressões sociais e familiares. A liberdade em Cristo destrói o desejo de agradar aos outros e concede-nos a segurança necessária para vivermos confiantes quanto à salvação.
            
*Artigo adaptado do Capítulo 2 do livro Teologia Inclusiva: Fundamentos, Métodos, História,Conquistas. Adquira o seu clicando na foto abaixo:





[1] FEITOSA, Alexandre. A Igreja Trans. Oásis Editora, Brasília, 2012, p. 69.
[2] Alexandre Feitosa. Lições Bíblicas Conhecimento e Graça. Oásis Editora, Brasília, 2014.
[3] Idem.
[4] Referência aos versículos bíblicos comumente utilizados como argumento bíblico contra a homoafetividade, a saber, Gênesis 19.5, Levítico 18.22 e 20.13, Romanos 1.26 e 27, 1ª Coríntios 6.9 e 10, 1ª Timóteo 1.10 e Judas 7.

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