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Campanha da Dolce & Gabbana em que ficam explícitas as posições típicas da sociedade patriarcal para homens e mulheres. |
Pr. Alexandre Feitosa
Está havendo uma grande inversão acerca do que é a
Ideologia de Gênero. Já expusemos em outros momentos que tal ideologia, pelo
menos como é compreendida pelo senso comum cristão, simplesmente não existe!
Entretanto, meditando melhor sobre tal expressão – que voltou à tona após a
declaração de Ana Paula Valadão – constatamos que a Ideologia de Gênero
realmente existe e está intimamente associada à mentalidade cristã,
representada por evangélicos e católicos conservadores. Para entendermos melhor
a questão, vejamos o que é ideologia:
Em um
sentido amplo, genérico, ideologia significa tudo aquilo que seria ou é ideal, adequado, correto. Uma ideologia representa "um conjunto
de ideias, pensamentos, doutrinas,
ou visões de mundo de um indivíduo
ou de determinado grupo, orientado para suas ações sociais e políticas." (www.significados.com.br/ideologia/).
Bem,
após essa definição, as coisas começam a ficar mais claras. Os estudos sobre a
sexualidade humana fizeram muitas descobertas a partir do século XIX:
aprendemos que as pessoas possuem componentes que, juntos, formarão o que
chamamos de constituição sexual: sexo biológico, orientação sexual
(heterossexualidade, homossexualidade e bissexualidade) e identidade de gênero (sentimento
de pertencimento ao gênero masculino ou feminino). Todos os seres humanos possuem
esses componentes nas mais variadas combinações. Os estudos de gênero não
prescrevem este ou aquele comportamento para homens e mulheres, apenas comprovam
que certas condutas foram construídas socialmente, por exemplo: rosa é a cor
das meninas e o azul é a cor dos meninos; meninas brincam de boneca, meninos
brincam de carrinho; cabelo comprido é para mulheres, cabelo curto é para
homens, saia é para mulheres, calça é para homens. Esse tipo de comportamento é
considerado ideal para o que a sociologia e a filosofia chamam de ideologia conservadora, intimamente
ligada às questões religiosas. Fugir dessas normas é transgredir não apenas
leis morais, mas a lei de Deus! Cada pessoa deve comportar-se segundo o que se
determinou socialmente como adequado e correto para seu sexo biológico. Isso é
um tipo de ideologia, pois trabalha para perpetuar valores morais e
comportamentais considerados corretos e ideais.
Na verdade, quem está pregando e disseminando
uma ideologia dos gêneros é a igreja cristã institucional, que se tornou
machista e misógina, considerando o homem superior à mulher, fixando
comportamentos rígidos para um e outro sexo, aprisionando pessoas em padrões
que Deus não estabeleceu, desrespeitando singularidades e violentando identidades.

O
estupro coletivo de mulheres (e até de homens) não é algo da nossa geração. A
Bíblia narra esse tipo de violência no livro de Juízes, capítulo 19. A vítima? Uma
concubina, mulher (propriedade) de um levita – membro do sacerdócio judaico. A
brutalidade foi tamanha que resultou na morte da mulher (Juízes 20.5). O mais
chocante desse relato é que o alvo do estupro seria o levita, não a concubina. Não
porque os estupradores fossem gays, mas porque queriam humilhar um homem
estrangeiro e o sexo era a melhor forma para isso (esse episódio é análogo ao
ocorrido em Sodoma). Entretanto, naquele contexto cultural, um estupro coletivo
de uma mulher era encarado com certa naturalidade (Gênesis 19.8, Juízes
19.22-28). A mentalidade de que as mulheres eram bens, subordinadas às vontades
masculinas, justificava que seus corpos fossem violados sem grandes prejuízos
morais. Os eventos que decorreram reforçam essa ideia. Pela manhã, o levita,
com muita naturalidade, ao ver a mulher caída, lhe diz: – Levanta-te e vamos
(Juízes 19.28a). Entretanto, ao constatar sua morte, uma cena digna de um filme
de horror é descrita: o levita esquarteja a mulher e espalha seus pedaços em
Israel (Juízes 20.6). Brutal, certo? Sem dúvida! Porém, naquela sociedade, aquele
gesto foi simbólico, pois a morte da mulher (não seu estupro) resultou na perda
de um bem. Os homens de Israel se revoltam e atacam a cidade onde ocorrera o
assassinato (Juízes 20.7-48). O estupro de um homem resultaria em desonra e
humilhação extremas, pois o colocaria na posição de uma mulher. O estupro de
uma mulher não alteraria em nada sua condição.
Isso
explica muito acerca da homofobia, especialmente quando percebemos que os gays
passivos ou efeminados sofrem mais preconceito que os gays cis-heteronormativos,
ou seja, os gays ativos e viris, assemelhados aos homens heterossexuais. Gays
passivos ou efeminados estão mais próximos do feminino enquanto que gays ativos
e viris estão mais próximos do masculino, isso explica que a homofobia tem
relação direta com o machismo e com a misoginia e, consequentemente, com a
ideologia de gênero, já que esta prescreve o que é ideal ou não sobre comportamentos
e papéis.
Havia e há um padrão para as mulheres e para
os homens, ainda que tais padrões não traduzam a vontade de Deus. A mulher
ideal deve ser submissa, recatada (calada) permanecer casada mesmo quando
traída, cuidar das tarefas domésticas e dos filhos. Mulheres independentes
demais não são bem vistas pela igreja e pela sociedade conservadora. Sua
existência tem um fim muito específico: servir ao homem e dar-lhe filhos. São
resquícios do patriarcado já descrito.
Todas
essas convenções culturais e sociais são reforçadas por interpretações
descontextualizadas das Escrituras. Na alienação bíblica e teológica, a
ideologia de gênero "cristã" enclausura pessoas, especialmente as
mulheres, contrariando o princípio bíblico da liberdade para a qual Cristo nos
libertou! (Gálatas 5.1).
E
agora, José? Quem realmente tem insistido em impor uma ideologia dos gêneros? Talvez
Ana Paula Valadão possa responder!
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