sábado, 16 de outubro de 2010

O Perigo do Retrocesso Político

Por Alexandre Feitosa

Nunca assuntos polêmicos estiveram em tamanha evidência como neste momento eleitoral. Os candidatos à presidência, pisando em ovos, evitam falar aberta e francamente sobre questões relacionadas aos direitos civis dos homossexuais no Brasil. Pressionados pela força religiosa, tanto do lado católico quando do lado protestante, Dilma Rousseff e José Serra produzem pontos de vista esquivos, com pouca ou nenhuma convicção política relevante.

Quanto à união civil homoafetiva, ambos se dizem a favor dos direitos – como o previdenciário, por exemplo – mas quanto ao casamento, esquivam-se, deixando a responsabilidade para as igrejas. José Serra vai mais além e diz que tais direitos já são reconhecidos e aplicados pelo judiciário brasileiro, evidenciando, nas entrelinhas, que não pretende concretizar e ampliar tais direitos em nível nacional.

Ambos os candidatos tornaram-se reféns da grande massa religiosa homofóbica brasileira, principalmente a candidata petista, exaustivamente sabatinada com a questão do aborto. Com cada vez mais políticos engajados em defender doutrinas religiosas em detrimento dos direitos humanos, estamos vivendo o início de um fundamentalismo religioso comparável mesmo às nações islâmicas mais brandas. E o pior é que a Igreja diz “amém” a toda e qualquer tentativa de tornar o Estado verdadeiramente laico, com governabilidade para todos os cidadãos.

Os cristãos inclusivos não podem se calar ou se omitir diante desses fatos. O sensível declínio de Dilma Rousseff nas pesquisas encontra raízes na alienação religiosa que faz de seus fiéis massa de manobra facilmente manipulável. Calúnias, mentiras e difamações sobre a candidata petista abarrotam nossas caixas de e-mail, demonizando-a ao extremo. Infelizmente, muitos, principalmente cristãos, acreditam em tais afirmações infundadas, perpetuando a falta de senso crítico e a crença cega em líderes sem visão de justiça social.

O atual governo já sinalizou positivamente com programas como “Brasil sem homofobia”, algo inédito em governos anteriores. O mais sensato, portanto, é que enquanto cristãos inclusivos, apoiemos a continuidade do atual governo na figura de Dilma Rousseff. Por motivos já expressos, devolver o governo ao PSDB pode significar a estagnação de nossos direitos ou mesmo o retrocesso deles. Além do mais, a bancada de Dilma conta com a maioria tanto no Senado quanto na Câmara, o que garantirá mais fluidez em suas ações e decisões políticas.

Enquanto Igreja, proclamemos a urgência de políticas públicas comprometidas com a justiça social e com a igualdade de direitos. Não nos deixemos levar como a grande massa dominada, acrítica e alienada. Não troquemos o certo pelo duvidoso.

Um comentário:

  1. Nunca fiquei tão indeciso na escolha do Presidente de nosso país. Na verdade também nunca fui muito ligado a política, mas, lendo seu texto me fez repensar meu voto...
    Aproveito para apresentar também meu blog:Eu e o HIV Vivendo um dia após o outro, http://eueohiv.zip.net

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