terça-feira, 9 de junho de 2015

Foi Mesmo Necessário?


Pr. Alexandre Feitosa

Relutei muito se publicaria esse post. A razão é  muito simples: as opiniões divididas têm servido como  uma oportunidade de ofensas mútuas. Percebi, inclusive, entre alguns LGBTs que saíram em defesa da representação, um alto grau de intolerância com os que discordam de sua visão. Antes de prosseguir, segue minha interpretação da imagem:

Sem dúvida, em um primeiro momento, a imagem choca, não apenas por retratar um símbolo do cristianismo em uma parada gay (algo incompatível para a maioria cristã!) mas por retratar uma mulher trans, seminua, machucada e ocupando o lugar onde nos acostumamos a ver Cristo. A intenção da cena foi retratar, de modo fiel, a violência a que está exposta a comunidade LGBT, especialmente as mulheres trans, violentadas, crucificadas e mortas injustamente, todos os dias, em nosso país. Vi como uma obra de arte engajada. Em momento algum me senti ofendido pelo que vi. Pelo contrário. Senti na imagem a violência do poder político e religioso, infelizmente, legitimado em nosso país, exatamente como ocorreu na época de Cristo.

O problema é que nem sempre uma representação é interpretada segundo a intenção de quem a criou. Infelizmente, a maioria (cristã) não interpretou a cena como foi concebida e a considerou uma blasfêmia contra Cristo ou contra os próprios cristãos. Alguns LGBT dizem: "Problema deles se não entenderam! Será que é preciso desenhar? São burros, ignorantes, fundamentalistas religiosos!" Não estariam, essas palavras, cheias de intolerância e preconceito com os que pensam e sentem diferente? Não estaríamos agindo como os fundamentalistas que tanto acusamos?  Será que podemos culpar as pessoas por suas opiniões só porque diferem das nossas? Não devemos combater as pessoas, mas a ignorância que tem produzido discursos de ódios, fomentado e potencializado os preconceitos, pais da violência. Um discurso de ódio não será mudado com mais discurso de ódio.

Alguns dizem que a representação trouxe o assunto da violência à comunidade LGBT à tona, que a partir disso, as pessoas começaram a se conscientizar da real vulnerabilidade dessas pessoas. Tenho lido muitos posts, artigos e comentários. O que tenho percebido é: aqueles que realmente deveriam ser alcançados por essa discussão permaneceram e permanecem alheios à questão. O discurso de ódio parece ter sido alimentado. Nem mesmo entre os LGBT há consenso. 

Será que minha compreensão da mensagem apresentada me dá o direito de ofender aqueles que não tiveram a mesma interpretação? De taxá-los de burros, ignorantes e fundamentalistas? Não. Vejo a arte como algo subjetivo, cujos expectadores têm autonomia para interpretá-la, gostando ou não, experimentando fruição ou aversão. Se defendo as diferenças e não sou capaz de respeitar aqueles que divergem de mim, então, preciso revisar minha defesa. Agindo assim, em vez de ser um contribuinte para a tolerância, estarei contribuindo para o aumento do preconceito e dos estereótipos, que tanto mal causam à minha comunidade (LGBT).

Em nosso atual contexto histórico (Minoria LGBT versus Maioria Fundamentalista Religiosa), acredito que protestos e denúncias devem utilizar-se de imagens chocantes, sim, porém sem dar margem para interpretações dúbias, levando, desse modo, a população à reflexão, não à indignação. A mensagem deve ser dada, isso não está sendo questionado, o problema está em fazer algo que, aos olhos e às mentes da maioria, será encarado como afronta, não como um meio de  conscientização. Deve-se avaliar se esta ou aquela representação, por mais fiel que seja à realidade, contribuirá para o combate à LGBTfobia ou se  potencializará o preconceito, elevando discursos e sentimentos homotransfóbicos  (especialmente se utilizam símbolos religiosos). 


Um comentário:

  1. Olá! Muito bom esse post, parabéns !
    Gosto muito do conteúdo do blog, por favor não abandone o blog... E os videos também no seu canal fazem falta :(
    Abraços, que Deus ilumine cada dia mais tua mente.

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