Na última
terça-feira, 27/11, estive presente na audiência pública sobre o PDL 234/11
(Projeto de Decreto Legislativo) que visa sustar a resolução do CFP (Conselho
Federal de Psicologia) que proíbe aos psicólogos a utilização de terapias de
reorientação sexual para homossexuais desde 1991. Antes de prosseguir, quero
deixar claro que sou contra a aprovação do PDL 234/11, ou seja, sou contra as
terapias de “reversão” ou “reorientação”, por ver nelas uma agressão à pessoa
homossexual.
Um dos pontos
discutidos foi o direito que a pessoa homossexual tem não apenas de buscar “reorientação
sexual”, mas de obter o tratamento necessário nesse processo. Sou a favor de
que devemos respeitar a vontade e o desejo das pessoas, sobretudo se anseiam
pôr fim a uma situação de sofrimento. Se um homossexual deseja deixar de sê-lo,
é um direito que ele possui, e isso deve ser respeitado. Como pastor, já fui
procurado por cristãos homossexuais com esse desejo. Quando isso acontece, busco anunciar-lhes o
Evangelho, demonstrando que a Bíblia não condena a homossexualidade, que somos
dignos de servir a Deus, que somos merecedores de realização afetiva dentro de
nossa constituição sexual. Depois de um processo – que envolve estudo bíblico,
aconselhamento e oração –, alguns não conseguem conciliar homoafetividade e fé.
Uns voltam à igreja de origem para viver uma vida solitária e de abstinência
(pois isso não é celibato!). Outros entram de cabeça na promiscuidade, já que
entendem que, para eles, não há salvação. Os danos causados pela má
interpretação bíblica são, para muitos homossexuais, irreversíveis. Ninguém sofre por
causa de orientação sexual. A verdadeira causa do sofrimento dos homossexuais
está em como são vistos e tratados pelos vários setores da sociedade – igreja,
família, escola, etc. Preconceito e discriminação são as verdadeiras
enfermidades que devem ser tratadas e eliminadas de nosso meio, a começar pelos
governantes.
Embora
oficialmente os psicólogos estejam impedidos de oferecer terapias de
“reorientação”, algumas igrejas possuem tratamentos espirituais (e
psicológicos) com esse objetivo. Tais terapias de “reorientação” apenas
prejudicam as pessoas homossexuais. O sofrimento é maximizado pela frustração,
afinal, os resultados esperados (e prometidos) não são alcançados. Dessa forma,
as igrejas contribuem, diretamente, para o aumento do sofrimento de tais
pessoas, quando deveriam promover-lhes conforto e alívio. (Mateus 11.28-30). Recentemente, Alan Chambers, presidente da Exodus Internacional (entidade cristã
engajada na “cura” de homossexuais) pronunciou-se sobre a questão, reconhecendo
a ineficácia de tais “tratamentos” e condenando as terapias reparadoras. Essa
notícia abalou o mundo cristão, pois Chambers (que se apresentava como ex-gay)
admitiu que ainda luta contra desejos homossexuais, apesar de viver um
casamento heterossexual.
Muito se falou
do sofrimento psíquico que os homossexuais enfrentam e do direito que eles têm
de buscar ajuda psicológica, entretanto, nada se falou sobre a gênese desse
sofrimento. Esse foi o discernimento que faltou na audiência. A
homossexualidade não é doença, anomalia ou patologia a ser tratada. Essa
verdade foi praticamente unânime entre os participantes que compunham a mesa. O
grande erro da audiência foi atribuir, explícita e implicitamente, o sofrimento
psíquico dos homossexuais à sua orientação sexual, o que é um grande mito! O
homossexual não sofre por conta de sua orientação sexual, mas porque lhe foi
imposta historicamente a condição de anormal, abominável (conceito advindo da
tradição judaico-cristã) doente e pervertido. O homossexual sofre porque é alvo
do preconceito, da discriminação e da exclusão.
Portanto, o
sofrimento psíquico de muitos homossexuais será curado quando:
1)
A família acolhê-los e amá-los, em vez de expulsá-los;
2)
A Igreja abraçá-los em vez de excluí-los;
3)
A homossexualidade for entendida como uma variação
normal da sexualidade humana, tal qual a heterossexualidade;
4)
A homossexualidade deixar de ser vista como abominação;
5)
As uniões homoafetivas forem vistas como expressão de
amor;
6)
As famílias homoparentais forem reconhecidas como
família;
7)
O bullying homofóbico acabar;
8)
Os crimes ocasionados pela homofobia cessarem;
9)
Todos tiverem os mesmos direitos... E tantos outros reflexos
da homofobia.
A solução para
o sofrimento psíquico que muitos homossexuais enfrentam não são as terapias de
“reorientação”, pois estas não funcionam! A solução está no fim da homofobia. Esta,
sim, deve ser tratada e eliminada! Educação (que inclui a mudança de paradigmas
teológicos para as igrejas cristãs convencionais) e criminalização são o
primeiro passo. Infelizmente nossa geração não presenciará o fim da homofobia,
mas estamos plantando sementes, que virarão árvores e que, consequentemente,
darão seus frutos para a posteridade.
E por falar em
árvore, ainda que um homossexual esteja profundamente ferido e ainda que
vivamos em um mundo dominado pela homofobia, o Senhor não se esqueceu de nós (Isaías 49.15)! As verdadeiras doenças causadas
pela homofobia (traumas, dores, culpas, complexos, depressão, desejo de
suicídio) podem ser curadas! “Porque há
esperança para a árvore, que, se for cortada, ainda torne a brotar, e que não
cessem os seus renovos. Ainda que envelheça a sua raiz na terra, e morra o seu
tronco no pó, contudo ao cheiro das águas brotará, e lançará ramos como uma
planta nova.” Jó 14. Aos
sexualmente excluídos, há uma promessa que não foi revogada: “Pois assim diz o Senhor a respeito dos
eunucos que guardam os meus sábados, e escolhem as coisas que me agradam, e
abraçam o meu pacto: Dar-lhes-ei na minha casa e dentro dos meus muros um
memorial e um nome melhor do que o de filhos e filhas; um nome eterno darei a
cada um deles, que nunca se apagará. Sim,
a esses os levarei ao meu santo monte, e os alegrarei na minha casa de oração;
os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar; porque a
minha casa será chamada casa de oração para todos os povos.” Isaías 56
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