sábado, 19 de setembro de 2015

Caio Fábio e a Viadagem Eclesial


Pr. Alexandre Feitosa
Em um vídeo gravado no ano passado (ao qual assisti somente nesta semana), o reverendo em questão responde à seguinte pergunta de um internauta: "é possível ser homossexual e evangélico?". Afirmando não fazer parte do que chama de movimento evangélico (que compreende, segundo ele, 65% das igrejas), Caio afirma não ser possível e até evoca Silas Malafaia para comprovar sua tese. O reverendo até exalta homossexuais cristãos que conhece, exalta seus relacionamentos e seus frutos, em detrimento de muitos heterossexuais. Caio enfatiza uma verdade muito importante: todos podem se achegar a Jesus como são, gays ou heteros. Até aí, tudo bem. A questão é que, em determinado ponto do vídeo, ele fala sobre as igrejas inclusivas. Não para reconhecer seu papel, mas para depreciá-las. Suas palavras são enfáticas: "Eu não as recomendo! São igrejas de gays para gays, aquela viadagem eclesial! Tô fora!"  O reverendo, tão famoso por sua sabedoria, revela completa ignorância sobre o que, de fato, são essas denominações. Ainda se revela irônico e homofóbico ao classificar como "viadagem"  o ministério de tantos homens e mulheres idôneos e comprometidos com sua vocação. Mas, quem é ele para recomendar ou não algo que desconhece? Para julgar igrejas que estão fazendo o que as outras deveriam fazer? As denominações inclusivas são o resultado da negligência das igrejas convencionais no trato com as minorias sexuais.

O reverendo ainda as chama de gueto. Originalmente, a palavra significa "bairro ou região de uma cidade onde vivem membros de uma mesma etnia ou qualquer grupo minoritário. Por extensão designa todo estilo de vida ou tipo de existência resultante de tratamento discriminatório." (WikiPédia). De fato, ele tem razão em uma coisa: as igrejas inclusivas nasceram em um contexto de preconceito e discriminação, são produto de resistência e luta. Em que isso nos diminui? Em que isso afeta a nossa vocação? Em que isso limita a graça divina? Entretanto, embora sua ênfase seja dada às minorias sexuais excluídas, suas portas estão abertas a qualquer pessoa, há muitos heterossexuais membros dessas denominações. Igrejas Inclusivas não constituem grupos fechados e exclusivos como normalmente ocorre com os guetos. Antes de tudo são parte de um todo maior, espiritual e universal: o corpo de Cristo. Ao utilizar o termo pejorativamente, Caio Fábio diminui a importância dessas denominações que têm sido verdadeiros hospitais para pessoas feridas e rejeitadas, sedentas por amor e acolhimento, o que Jesus sempre nos ensinou. Se os "verdadeiros discípulos" de Jesus se recusam a anunciá-lo a essas pessoas, Deus, então, usa as pedras. Paulo escreveu: "como ouvirão se não há quem pregue? Como pregarão se não forem enviados?" (Romanos 10.10b e 11a). Pastoras e pastores gays são pessoas corajosas, que enfrentam o sistema majoritário para imitar Jesus, levando o Evangelho sem distinção, aos excluídos e marginalizados. Esses pastores que, segundo ele, fazem "viadagem eclesial" são as pedras levantadas por Deus para levar a Palavra àqueles cujos líderes religiosos se recusaram a levar. Ao contrário de fazer viadagem eclesial, temos os "pés formosos pois anunciamos o Evangelho de paz, que traz alegres boas novas". (Romanos 10.15.b)

Expressando um profundo preconceito com os vocacionados homossexuais, o "reverendo" revela que apenas heterossexuais vocacionados é que podem exercer correta e dignamente o seu chamado. Heterossexuais vocacionados exercem um chamado eclesial, homossexuais vocacionados exercem "viagadem eclesial". A expressão viadagem carrega em si uma forte carga pejorativa: é o jeito de ser dos viados, seres escandalosos, impudicos e exibicionistas. Para Caio, não servem para o sacerdócio, pois não pode haver seriedade neles, não pode haver legitimidade em seu chamado, em sua vocação. É isso que o reverendo diz.  

Jesus foi à Gadara para salvar um homem. Aquela cidade era habitada por pessoas pagãs, que viviam da criação de porcos, animais imundos para a religião judaica, viviam separados, eram gentios. Em relação aos judeus, viviam num gueto. Ao ser liberto e ter um encontro com o mestre, aquele homem quis sair dali para segui-lo. Jesus o mandou permanecer no gueto, para testemunhar ao seu povo. Ele não quer nos tirar do gueto, ele quer nos usar no gueto.


Como todos sabem,  sou pastor e sou gay. Tenho consciência da minha vocação, que não veio de mim, mas de Deus. Não fui eu que o escolhi, Ele é que me escolheu. Prego o Evangelho para uma minoria não alcançada pela pregação dos "detentores" da verdade "evangélica". Eles se calam, mas ainda existem as pedras dispostas a clamar, a anunciar Jesus, aquele que veio, não para os líderes religiosos, mas para os marginalizados, os mesmos que a própria instituição religiosa relegou aos guetos. Jesus está no gueto, e é a presença dele que valida nossa cidadania, nosso chamado e vocação. 

5 comentários:

  1. Não podia esperar outra resposta meu querido Pr. Alexandre. Ao Senhor toda honra e glória pela sua vida e seu ministério. Deus o abençoe ricamente.

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  2. Olá, sou o lucas,e queria só falar...
    Sabe eu acho que o que ele disse não foi certo,e até foi algo bem chocante porque eu acho esse cara de Deus e é muito inteligente,mas acho que não deveríamos perder tempo com os erros das pessoas,devemos gastar nosso tempo dando o que o nosso pai nos dá que é o amor dele por nós,tipo se alguém diz "eu sou contra igreja gays ou sei lá" podemos perfeitamente ser sábios e nem sequer falar sobre isso,mas apenas respeitar e amar,porque eu tenho certeza que o nosso pai,que mandou seu próprio filho pra morrer por nós, quer apenas que nós vivamos amemos e servimos ao próximo independente das diferenças,então digamos que diante dessa situaçao, eu SEI que o que o Caio disse foi uma afirmação sem conhecimento,mas eu sei que ele não é perfeito,e aí Deus nos da uma escolha em nosso coração, ou preferimos se irritar com essas acusações ou damos apenas o amor que recebemos do nosso Deus de amor,acredito que isso não só faz a diferenca, mas mostra a verdadeira cultura de um nós cristãos, que não só PREGAM O EVANGELHO MAS VIVEM O EVANGELHO(sem existir o evangelho inclusivo ou exclusivo,simplesmente o evangelho),e nos mostra ver o caminho de uma vida simples com Jesus.

    Espero que esse comentário só ajude a refletir em algo,fiquem com Deus :)

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  3. Eu já havia assisto este vídeo. Caio Fábio, muitas vezes, age com hipocrisia. Em nada difere de muitos líderes das igrejas evangélicas. E, por isto, eu não confio nele. O pior, ao meu ver, é que o filho dele é homossexual, onde ele já disse que o rapaz de ética e caráter.

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  4. A palavra de Deus diz que Jesus não veio para os bons, mas sim para os necessitados
    Deus nos ama independente da sexualidade de cada um.

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